Ao primeiro contacto, notará o leitor alguns dos traços mais enraizados na escrita de Tomaz Borba Vieira, e que se consubstanciam por aparente simplicidade de difícil execução, e por uma contínua fluidez, sem grandes derivas à órbita do supérfluo, o que lhe confere um andamento aprazível e capaz de suster a atenção do leitor. Tomaz Borba Vieira é, como percebemos, um contador de histórias, tornando-se praticamente impossível dissociar estas marcas discursivas de figura autoral.
Como em outras obras suas, também em “Nariz de Santo e Outros Momentos” são narradas, de forma quase singela, múltiplas vivências e outras tantas viagens sentimentais e diferentes épocas e geografias. Com efeito, as balizas temporais definidas pelo autor fazem-nos calcorrear a sua própria memória, resgatando desse passado um tempo vivido intensamente junto da família e amigos mais ou menos próximos.
Desta vez, apresenta-nos quinze narrativas muito bem cuidadas, repletas de apontamentos históricos, psicológicos e sociais vistos e filtrados a partir da sua cosmovisão, conferida por toda uma vida repartida por diversas geografias mundiais, sem, todavia, renegar a sua concepção primeira de freguês de uma simples povoação, onde, invariavelmente, buscava o retemperar de forças, o reajustar de emoções e até a inspiração. São-nos oferecidos pequenos relances de outros tantos rasgos temporais, onde nos é possível vislumbrar a riqueza das relações familiares, dos hábitos sociais e quotidianos, onde podemos observar as relações de amizade entre pessoas muito simples e outras de maior relevo histórico-cultural, onde poderemos apreciar a comicidade fina que perpassa toda a obra e onde poderemos ainda encontrar a centelha que motiva Tomaz Borba Vieira e que se alarga num espectro desde a Pintura à Biologia, da Náutica à Religião, da História à Geografia, entre tantas outras.
Não que necessária fosse mais alguma confirmação, mas este “Nariz de Santo e Outros Momentos” vem atestar a maturidade e a robustez literária que Tomaz Borba Vieira já alcançou no seio das letras açorianas; vem confirmar, em definitivo, o seu lugar junto dos nomes maiores da literatura de raiz açoriana.
Telmo R. Nunes
11 de Dezembro de 2021
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