Romeiros de São Miguel Arcanjo

500 Anos de História – Romeiros de São Miguel Arcanjo

Uma obra que reúne e resume, em quase 230 páginas, a génese, a orgânica, os percursos, as orações, os cânticos e as tradições de uma romaria, através dos tempos. Desde há muito tempo, muitos estudiosos se têm dedicado a este fenómeno religioso e social e a vasta bibliografia citada no livro é prova disso mesmo. E, felizmente que na actualidade este interesse continua. Uma coisa se pode dizer, porém: Este livro de Carlos Vieira é um marco assinalável e será sempre referência quando se falar de romarias. Porque representa um titânico esforço de recolha de dados, apresentados de forma ordenada e de fácil consulta, reunindo muita informação dispersa e guardando para a posteridade, em linguagem acessível e popular, muitas orações, salvas e cânticos que doutra forma ficariam encerradas no restrito mundo dos romeiros que as sabem de cor.

Carlos Vieira, de facto, vai às raízes documentais históricas e deixa pistas para a continuação deste trabalho. Desde “procissões penitenciais”, até às “visitas às casas de Nossa Senhora”, e desembocando no que são hoje as romarias, é fascinante ver a sua evolução, os seus altos e baixos, as proibições de que foram alvo, os desinteresses e até antipatias por parte da hierarquia católica e, acima de tudo, a formação identitária que elas conferiram nas vivências quaresmais e na religiosidade popular micaelense.
Carlos Vieira, com os seus 42 anos, é um veterano nas andanças dos romeiros, com a vantagem de ter uma formação multifacetada que faz dele um valor polivalente dentro da comunidade onde se insere e também no interior do próprio Movimento dos Romeiros. Músico e poeta, compõe e escreve; organista distinto, anima as liturgias e outros momentos de oração; membro de filarmónica, aí está ele com a bela e original iniciativa da criação de uma banda de música de romeiros, com músicos das bandas de Vila Franca, União Lealdade e de Ponta Garça, Lira do Sul.
“Mais do que um livro de história ou de histórias, esta é uma obra de evangelização que nos leva a percorrer o itinerário da romaria, não apenas no aspeto geográfico, mas sobretudo no espiritual, existencial”. Esta palavras são do Cónego Hélder Mendes, Administrador Diocesano na sede vacante de Angra e mostram o alcance desta obra, porque, de facto e como escreve a Professora Carmen Ponte no brilhante prefácio, “Carlos Vieira impregnou o seu livro com reais dimensões de interioridade, de alma e de espiritualidade, vividas ao retratar as romarias da Vila, e fê-lo muito bem, porque não se trata de uma tradição fixa e padronizada, pois existe uma diversidade infinita de romarias, cada romaria contendo aspetos que diferem de rancho para rancho, de mestre para mestre e até mesmo de freguesia para freguesia”.
O livro, com primorosa execução da Nova Gráfica, contém mais de 400 fotografias e ali ficam arquivadas todas as igrejas e ermidas de São Miguel por onde passam romeiros, para além de nos depararmos com verdadeiras relíquias fotográficas do passado e momentos únicos da vivência dos romeiros. Foram mil exemplares, numa edição da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, mas tenho a certeza de que em breve outra edição virá, porque não haverá romeiro, residente ou emigrado que não queira possuir esta magnífica obra.

Santos Narciso