Casa do Tempo
Casa do Tempo
A habilidade de Lélia Pereira da Silva Nunes em reproduzir literária e afetivamente suas memórias de infância e trazê-las para o presente hipnotizam o leitor/leitora. Neste Casa do tempo, uma experiência coletiva geográfica e historicamente situada – os Açores e a Ilha de Santa Catarina, sua gente e sua cultura – ganha, nas teclas dessa admirável intelectual catarinense, uma verdade pessoal e comunitária a que o leitor se alia sem pestanejar.
O eu único da narradora se revela na escritura do eu-social. Lélia, ao se referir a autores tais Nereu Corrêa, que ela aproxima de Miguel Torga, às relações culturais entra as ilhas citadas, como os ritos religiosos e profanos respectivos, ao realçar a importância de Othon d’Eça, de Ana Luiza de Azevedo e Castro, Willy Zumblick e das festas do Divino Espírito Santo, nos fala da condição humana universal.
Não posso deixar de sublinhar a referência ao elo da convergência cultural entre a literatura dos catarinenses e a literatura nascida nos Açores. Vozes de diferentes histórias e gerações a percorrerem os caminhos do mar – Vitorino Nemésio, Eduíno de Jesus, Pedro Almeida Maia, Pedro da Silveira, José Andrade. Escreve sobre o passado com os dois pés no presente, com a autonomia de uma narradora do futuro. Não há nesta bela obra uma ilusão naturalista nem uma mitificação da chamada religião do vivido, mas, sim, uma análise de um eu-sujeito a serviço da arte e da causa Humanista.
Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Catarinense de Letras
Autora: Lélia Pereira da Silva Nunes
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