Cartas de Amor (sem destinatário)

Orquídea Abreu, autora com livros publicados, que colabora numa rádio e tem na escrita uma das suas paixões, desvenda neste seu último título múltiplas facetas do coração. Desde logo, a de ser ele a ditar o ritmo do amor. Ele que, oscilando, entre dúvidas e certezas, bate, às vezes, com muita força, acelerando, empurrando o seu dono por caminhos e atalhos que, em pleno encantamento, se lhe afiguravam avenidas, como esta do Oceano Atlântico, que define a geografia da jornada amorosa destas cartas de amor.

Estamos perante uma deambulação levada a cabo por alguém que se liberta na escrita, com “uma caneta e a vida”. Liberdade temperada pela dor e por fantasmas, mas também pelo inconformismo e pela fantasia. Escrita que transporta o leitor pelos meandros de uma narrativa poética, cujos versos, numa respiração muito própria, nos abrem as portas de um monólogo que trata de um tema tão aparentemente banal quanto complexo, o amor, por vezes grafado com inicial maiúscula.

Carlos Bessa

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hoje dir-te-ia:
há bruma no monte e chuva no mar
a ilha é destino e mistério
palavras interditas, em memórias privadas
habitamos num tempo de incertezas
com uma névoa branda a roçar nas paredes
na casa a dulcíssima voz da interrogação:
ainda há tempo para um poema?
sigilos em dias de vento
chove.
chove.
e eu pronuncio o teu nome!

Autora: Orquídea Abreu