Os Velhos

16,00 

Nutrindo-se de existências (mais ou menos) comuns, “Os Velhos”, no entanto, proporcionam a experiência invulgar e do excessivo, porque do romance emana a “nudez crua da verdade”. É essa verdade que, dando mote às páginas do livro, se insinua no leitor e o faz compadecer-se das vidas que são erigidas e que acompanhamos em diversas fases, com destaque para a velhice. Dos habitantes de um lar da terceira idade, todos vergados à sua condição de tristeza, solidão e desesperança, destacam-se, ao longo da obra, Maria de Fátima, Ernestina dos Anjos e Bernardo Augusto, cujas vidas são objecto de estudo. No lar, já em idade vetusta, estas (e outras) personagens encontram o reverso do que devia significar a palavra lar. Sós, embora o espaço seja o de muitos homens e mulheres, desencantados, esquecidos da vida, perdidos da esperança, as personagens só têm praticamente existência de que o lar de idosos é a última fase do que foi a vida, fase esta de abandono, embora, aparentemente, nada lhes falte – faltam flores e Sol e risos e amor. A par do presente das personagens referidas, há um recuo ao seu passado. Dos nossos dias, passa-se para os anos trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta do século XX. Maria de Fátima é a personagem em que representa a mulher típica dos anos acima enunciados, resistente no seu papel de filha, esposa e mãe. Ernestina dos Anjos é uma mulher marcada, desde o nascimento, pela desdita, sendo, quando adulta, vítima das forças mais brutais de violência doméstica. Bernardo Augusto é um idealista, que luta contra o Estado Novo e é dele vítima. Encontramo-nos, assim, perante a diversidade do humano. Mais relevante, porém, é a ambiência do presente, no lar da terceira idade, para onde os velhos vão porque são incómodos ou por não terem outra opção e onde perdem a noção de tempo, pois cada dia é igual ao anterior e esquecem a esperança e a alegria. “Os Velhos” são um romance que se configura como um retrato dos nossos dias, descritos com crueza e força de linguagem, em que o tempo é demasiado precioso para se ‘desperdiçar’ com quem já, supostamente, nada tem para oferecer. Embora o narrador faça abundantes comentários, não há, moralismos nas páginas do livro – estes ficam a cargo do leitor.

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Autora: Paula de Sousa Lima

 

Excerto do livro:
“E foi tal castigo consumado quando Jeremias arrastou Ernestina dos Anjos até à pocilga do porco, empurrando-a para dentro e prendendo-lhe o tornozelo direito com uma corrente, que se encastrava numa das paredes da pocilga – aqui é o teu lugar, disse-lhe. Quem visse a expressão de Ernestina perceber-lhe-ia o espanto, mais do que outro sentimento. Quis gritar, chamar pelos filhos, mas a voz emudecera-lhe. E, passado o espanto primeiro, veio ela a resignar-se, percebendo que era esse o seu destino, ser um animal, tal o porco que a olhava como se também espantado, não ter vontade nem voz.
Entraram e saíram dias, meses, estações, anos, e Ernestina a viver na pocilga, um viver efectivamente desumano, mais degradante não se poderá imaginar, certamente haverá quem do aqui narrado duvide”.

Em stock

DETALHES DO PRODUTO

Additional information

Dimensions 23 × 16 × 1,6 cm
ISBN

978-989-735-386-4

Edition

Maio de 2022

Language

Português

N.º Páginas

192

Bookbinding

Capa mole

Publisher

Letras Lavadas

SOBRE O AUTOR

Paula de Sousa Lima

Nasceu em Lisboa, filha de pais açorianos, e vive nos Açores desde os seis anos, com uma passagem por Moçambique.

É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e mestre em Literatura Portuguesa. Professora do Ensino Secundário, também exerceu funções de docente no Ensino Superior durante mais de uma década. No âmbito da investigação académica, publicou artigos sobre literatura, língua e didáctica em revistas das especialidades.

Mantém, desde há vários anos, uma colaboração assídua e regular em jornais, com crónicas e artigos sobre literatura e língua. Assina, há alguns anos, no Açoriano Oriental, uma coluna quinzenal de crónicas, subordinada ao título Penso, logo escrevo.

Integra Comissão Coordenadora do Plano Regional de Leitura desde 2011.

É co-autora da actividade literária, conta com a publicação de contos, romances, poesia e crónica. Na área do conto, tem mais de duas dezenas de publicações, em jornais e em revistas, está representada em diversos colectâneas e é autora de O outro lado do mundo (Prémio Daniel de Sá 2016) e Pretérito quase perfeito e outros contos (Companhia das Ilhas). Na área do romance, tem seis publicações: Crónica dos senhores do Lenho (Macaronésia), Variações em dor maior (Seara Verde), Tempo adiado (ASA, LeYa), Os últimos dias de Pôncio Pilatos (Casa das Letras, LeYa), Mas Deus não dá licença que partamos (Letras Lavadas) e O Paraíso (Finalista Prémio LeYa, Casa das Letras, LeYa).

Na área da poesia, estão publicadas as obras Quando eu mover a sombra das montanhas (Letras Lavadas) e, em co-autoria com Leonardo Sousa, Correspondência. No âmbito da crónica, foi publicado o livro Penso, logo escrevo (Letras Lavadas), conjunto de textos publicados no Açoriano Oriental.

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