Grotta – arquipélago de escritores #1

Os Açores são um arquipélago de escritores, que merece e deve ser cada vez mais valorizado pela cultura. É com esta convicção que é lançada em 2016 uma revista literária com um título que qualquer açoriano sente como próximo.
Como diz o vulcanólogo e professor Victor-Hugo Forjaz, num texto que dá o mote à publicação, todas as grotas – ou grottas, termo italiano – “são o iniciar de rituais da água. límpida ou colorida, frias a geladas, vulcão abaixo: são como que veias superficiais e tortuosas que oxigenam a nossa paisagem”.
O primeiro número contém destaques vários, como a amizade entre Mário de Sá-Carneiro e Armando Côrtes-Rodrigues (com postais inéditos do primeiro), ficção de nomes como Alexandre Borges, João Pedro Porto e Maria Brandão, poesia de autores como Carlos Bessa, Daniel Gonçalves e Gina Ávila, e crónica ao desafio, pelas penas de António Bulcão e Diogo Ourique.

Autores: Nuno Costa Santos (direção) e Diogo Ourique (coordenação editorial)

Continue Reading Grotta – arquipélago de escritores #1

grotta – arquipélago de escritores #2

grotta – arquipélago de escritores #2

No seu número 2 a revista Grotta aprofunda a sua vocação para reunir quem escreve no território açoriano e fora dele. Volta a juntar um respeito pela tradição literária, uma atenção à pluralidade de vozes e à comunicação com outros lugares. O dossier dedicado à Literatura de Porto Alegre é uma forma de celebrar, hoje, a nossa ancestral ligação com a capital do Rio Grande do Sul, com necessidade de uma boa actualização, lugar fundamental para os Açores e os açorianos. Há uma entrevista com Eduíno de Jesus, que partilha com os leitores a sua vida literária e a forma como vê o mundo.

Continue Reading grotta – arquipélago de escritores #2

Casa-Mãe

Casa-Mãe

“(…) O que resta a um ser da terra? A memória que foi. O que ficará para além dele enquanto alguém o lembrar à saída da padroeira numa qualquer procissão de paróquia. Com sorte, um retrato na casa-mãe, que desperta curiosidade, como os que preservamos nas paredes da nossa, cada vez mais preenchidas, como se fossem olhos que nos perscrutam lá no fundo da eternidade. (…)”.

————-

Autora: Paula Cabral

 

Esta nova colecção é coordenada pelo professor e crítico literário Vamberto Freitas.

 

Continue Reading Casa-Mãe

The Elderly

The Elderly

(Tradução do livro Os Velhos)

Nourished by (more or less) ordinary existences, ‘The Elderly’ nevertheless offers the experience of the unusual and the excessive, because the novel emanates the ‘raw nakedness of truth’. It is this truth that, setting the tone for the pages of the book, creeps up on the reader and makes them sympathise with the lives that are built up and that we follow at various stages, especially old age. Among the inhabitants of an old people’s care home, all in a state of sadness, loneliness and hopelessness, Maria de Fátima, Ernestina dos Anjos and Bernardo Augusto, whose lives are the subject of study, stand out throughout the book. At home, in their old age, these (and other) characters find the reverse of what the word home should mean. Alone, although the space is that of many men and women, disillusioned, forgotten about life, lost in hope, the characters practically only realise that the old people’s home is the last phase of what life was like, a phase of abandonment, although apparently they lack nothing – they lack flowers and sunshine and laughter and love.
Alongside the present of the characters mentioned, there is a flashback to their past. From the present day, we move on to the thirties, forties, fifties, sixties and seventies of the 20th century. Maria de Fátima is the character who represents the typical woman of the years mentioned above, resilient in her role as daughter, wife and mother. Ernestina dos Anjos is a woman marked by misfortune from birth and, as an adult, is the victim of the most brutal forces of domestic violence. Bernardo Augusto is an idealist who fights against and is victimised by the Estado Novo. We are thus faced with the diversity of the human. More relevant, however, is the ambience of the present, in the old people’s care home, where the old people go because they are uncomfortable or because they have no other option and where they lose track of time, because each day is the same as the last and they forget hope and joy. ‘The Elderly’ is a novel that is a portrait of our times, described with crudeness and strength of language, in which time is too precious to “waste” on those who supposedly have nothing to offer. Although the narrator makes plenty of comments, there are no moralisms in the pages of the book – these are left up to the reader.

 

Paula de Sousa Lima’s new book is a ‘find’: it is arranged in two sequences of dimensions, each organized in three movements. The choice of these partitions seems particularly fortunate in that the musical concepts of sequence and time “fit” perfectly into the fictional order (…).

Luísa Mellid-Franco • Expresso

(…) For this reason, the structure of the novel is divided into “Sequences” and these into three “Andamentos” corresponding to each. The interior of each “Andamento” is temporally divided into “Before,” the equivalent of the character’s past, and “Now,” his life at home, creating a very original time puzzle, framing the history of Portugal in the 20th century. (…) The infantilization of the routine life of older people is very well described in what, as far as we know, is the best Portuguese novel on this delicate subject.

Miguel Real • Jornal de Letras

This novel by Paula de Sousa Lima is magnificently structured like a sonata of the despair of her characters trapped, once again, in a home whose good intentions include everything but adult sensitivity towards the rich and poor, who suffer from physical weaknesses or the loneliness of total abandonment. (…) For a long time now. Paula de Sousa Lima has maintained this dialogue with her readers through her exceptional writing in various forms and genres. Her novel O Paraíso was a finalist for the LeYa Prize in 2016.

Vamberto Freitas • Açoriano Oriental

————

Author: Paula de Sousa Lima

 

Continue Reading The Elderly

Vida Horizontal – Variações sobre o Ócio e a Demora

Vida Horizontal – Variações sobre o Ócio e a Demora

Num mundo distraído e urgente propomos Vida Horizontal, um livro sobre o ócio e a demora. Um almanaque do brinde em câmara lenta, da pausa para saborear a comunidade de sabores, uma suspensão do tempo para a troca desinteressada da palavra.

Desafiámos autores portugueses e brasileiros, escolhidos segundo o critério “esta pessoa deve ter alguma a dizer sobre o assunto”, a escrever sobre aquilo que a ideia de “vida horizontal” lhes sugere. Surgiram textos com tópicos como a ditadura do trabalho, o prazer da contemplação, a vida no deserto, o deleite do aborrecimento e a vitória do feriado.

Textos de Paulo Tunhas, Carlos do Carmo Carapinha, Bruno Baldaia, Vítor Elias, Martim Vasques da Cunha, Clara Macedo Cabral, André de Leones, Jonas Madureira, Rodrigo Duarte Garcia, Ricardo Gross, Paulo Paula, Fábio Silvestre Cardoso, Luciano Amaral, Manuel Fúria, Jorge Reis-Sá, Juliana P. Perez, Érico Nogueira, Urbano Bettencourt, Gustavo Nogy, Djaimila Pereira de Almeida, Ana Markl

Organização: Nuno Costa Santos e João Pereira Coutinho

 

Continue Reading Vida Horizontal – Variações sobre o Ócio e a Demora

Quem Tivesse a Tua Idade

Quem Tivesse a Tua Idade

O adágio já é antigo: devemos ouvir os mais velhos, beber da sabedoria deles e prestar atenção às histórias que nos contam. Mas e se algum em específico achar que nunca viveu nada de interessante para contar? Terá imaginação suficiente para conseguir entreter um neto confinado a um quarto de hospital?
Começou, como tantas outras obras artísticas, durante a pandemia. Nessa altura, houve mais do que vagar para iniciar os trabalhos de uma ideia que o autor tinha guardada já há algum tempo.
Quando escreveu as primeiras linhas, ainda tinha uma maioria de avós vivos. Enquanto escrevia as restantes, passou a ter apenas metade.
É uma obra escrita em homenagem e agradecimento a eles e a todos os avós.
——-
Autor: Diogo Ourique

 

Continue Reading Quem Tivesse a Tua Idade

Frente e Verso

FRENTE E VERSO – CONTOS ACERCA DO MAL • POEMAS ACERCA DA MÁGOA.

«Estava ela no quarto de banho, lavara o cabelo, começara a enxugá-lo, entrou ele, olhou-a com o rancor costumeiro, estava a remastigar a alvura do oitavo filho, não só alvo como loiro e de olhos verdes, agarrou na navalha da barba, ela cedeu-lhe espaço, e, súbita e abruptamente, ele agarrou-lhe na mão direita, destacou-lhe o indicador, disse: nunca mais me vais apontar esse dedo, nunca mais, ouviste? garanto. Ela ainda murmurou que jamais lhe apontara o indicador, era verdade, mas devia ele sentir o dedo dela a indicar-lhe os muitos maus-tratos, a desafeição pelos filhos, os olhos dele tomaram um brilho mau, ela tentou encolher-se, com lesteza ele cortou-lhe o indicador direito, depois deixou cair a navalha».

Este é um livro que pede para ser lido duas vezes, que termina duas vezes, que oferece duas experiências de leitura literária – de poemas e de contos. E que oscila entre os dois maiores temas da arte de todos os tempos – Eros e Tanatos, o amor e a morte, e temáticas afins.
Os contos expõem o fim das idealizações, a dessacralização de figuras sacralizadas por convenções sociais e por uma certa literatura popular. Frente e Verso ousa mostrar a frente e o verso do estereótipo, desmontando-o para revelar com crueza a insensibilidade, o desamor, a violência doméstica, a pedofilia, a ganância, os tabus, a criminalidade.
Os “poemas acerca da mágoa” também nos oferecem epígrafes eloquentes. Tal como a parte dedicada aos contos, a da poesia está estruturada em “Livros”, designação que recorda a estrutura do Livro dos livros, a Bíblia, bem como de muitas obras clássicas. Ajusta-se, assim, a parte dos poemas ao papel de belo reverso da prosa. Enquanto a prosa se ocupou do mal, a poesia põe-nos ante a mágoa (forma inferior de mal) e a possibilidade de redenção. Persistem indícios dos espectros que assolam a narrativa, mas esta é uma dor trágica, que contém dignidade, patente no amor e na poesia.

«Ao reaparecer com Frente e Verso, Paula de Sousa Lima reafirma o lugar da sua voz distintiva no panorama literário português, simultaneamente enquanto poeta e ficcionista. À semelhança do que já nos habituou em publicações anteriores, a autora regressa às bases da cultura ocidental, concretamente ao duplo legado da antiguidade clássica e da tradição judaico-cristã, consolidando um dos traços inconfundíveis do seu estilo. Estes regressos têm o mérito de nos convidarem a revisitar os mitos fundadores da cultura europeia e de nos manterem cientes da influência de um passado que deixou arquétipos que continuam a impregnar o nosso imaginário artístico e intelectual.
Outro traço recorrente da escrita de Paula de Sousa Lima que ressurge é a interpelação recorrente aos espectros que assombram a nossa autoimagem como seres perfeitos e felizes: a dor e o mal. Desde os primeiros estímulos – refiro-me à capa e ao título – o livro prepara-nos para um encontro com os supracitados espectros.
Este é um livro que pede para ser lido duas vezes, que termina duas vezes, que oferece duas experiências de leitura literária – de poemas e de contos. E que oscila entre os dois maiores temas da arte de todos os tempos – Eros e Tanatos, o amor e a morte, e temáticas afins.
A escolha criteriosa das epígrafes, da estante de livros que alimenta a escrita da autora, põe-nos em diálogo com os clássicos, os textos sagrados, os grandes nomes da literatura. A escolha das citações a anteceder cada secção confere equilíbrio ao livro e compõe um bordado com um efeito de opulência.
Reflexão é uma palavra de ordem na nossa experiência de leitura. A divisão em secções, tanto para a prosa como para a poesia, exibe um pensamento disciplinado e ordenado, que cresceu sabendo para onde se queria dirigir: para a complementaridade de dois modos literários (o lírico e o narrativo); para a dualidade de perspetivas sobre o mal e a mágoa; para o diálogo com o passado e para a polifonia literária».

Leonor Sampaio da Silva “in” “Açoriano Oriental”, 15 de Maio de 2024

 

————

Autora: Paula de Sousa Lima

 

 

Continue Reading Frente e Verso

Let me Out of this Book

Let me Out of this Book

Tradução em inglês do livro “Tirem-me Deste Livro”, cuja edição em português faz parte do Plano Regional de Leitura – Ler Açores.
Whether we’re alone in the living room, surrounded by people in a bar, or simply lying in bed next to the person that, with time, we’ve grown accustomed to calling our better half, we’ve all questioned our reality. Is there someone behind the curtain, some obscure entity controlling the machines? Who’s the jackass that engineered my life? From what five-and-dime store did everyone around me come from? And how about me: would I have to be invented if I didn’t exist? What would we do if we incidentally found out the truth?
———
Author: Diogo Ourique

 

Continue Reading Let me Out of this Book